Título: "Olha-me nos olhos - a minha vida com Asperger"
Autor: John Elder Robison
Editora: Editorial PresençaData: Fevereiro de 2010
"Olha-me nos olhos" é um livro interessante! Escrito por John Elder Robison, conta o seu percurso desde a infância até depois do diagnóstico de Síndrome de Asperger e é, por isso mesmo, muito rico em descrições que nos ajudam a compreender melhor esta perturbação.
Por ser autobiográfico, dá-nos uma visão diferente de quando lemos um livro técnico e conseguimos facilmente associar as experiências descritas pelo próprio às encontradas nas descrições teóricas. Além disso, quem conhece portadores do Síndrome de Asperger vai sentir que já conhece algumas das situações descritas!
Deixo-vos algumas transcrições do livro, retiradas de um capítulo intitulado "Lógica versus Conversa de Circunstância":
"Eu sou um tipo muito lógico. (...) Isso pode originar problemas em situações sociais comuns, porque a conversação norma sem sempre se desenrola logicamente. (...) Para mim, é óbvio que as pessoas comuns possuem capacidades de conversação muito para além das minhas e, frequentemente, as suas respostas não têm nada a ver com a lógica. Desconfio que as pessoas normais estão programadas para desenvolver a capacidade de perceber insinuações indirectas de uma maneira que não acontece comigo."
"As pessoas abordam-me sem serem convidadas, e proferem afirmações que não foram solicitadas. Se não recebem a resposta que esperam, ficam indignadas. Se eu não responder, ficam indignadas por isso. Assim, nunca posso ganhar. Dentro desta linha de raciocínio, porquê falar sequer com as pessoas? Bom, muitos autistas não o fazem, possivelmente por essa mesma razão."
"As pessoas normais parecem aprender uma reserva de perguntas que usam para preencher um vazio na conversa. (...) Para mim, é um mistério como é que as pessoas normais sabem quais destas perguntas devem fazer. Têm melhor memória do que eu ou é apenas sorte? Deve ser um condicionamento social, algo que me falta em absoluto. (...) Por isso é que, há alguns anos, aprendi a soltar um «Uf!» evasivo se preciso de iniciar uma conversa ou preencher um silêncio. As pessoas ouvem e ficam sem saber bem o que dizerm , mas em geral não consideram «Uf!» indelicado. Depois tento desembaraçar-me com a resposta que obtenho."
"Eu, contudo, não exibo qualquer sinal exterior de uma incapacidade conversacional. Por isso, quando dou um passo em falso na conversa, alguém exclama: «Que idiota mais arrogante!» Espero ansioso o dia em que a minha deficiência me permita desfrutar do mesmo respeito concedido a um fulano numa cadeira de rodas. E, se esse respeito vier acompanhado de um lugar reservado no parque de estacionamento, não direi que não. Uf!"
Julgo que concordarão comigo que, só por este capítulo, vale a pena ler o livro!
Boas leituras!
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